1-
Introdução:
O nome de Sapienciais ou didáticos é dado a 5 livros do A.T. : Provérbios,
Jó, Eclesiastes (Coélet), Eclesiástico (Sirac) e Sabedoria. A estes são
acrescentados dois livros poéticos (Líricos) : Salmos e Cântico dos Cânticos.
Esses livros apresentam a sabedoria e a espiritualidade de Israel.
Em Israel, sabedoria não é cultura conseguida com acúmulo de conhecimentos,
mas o bom senso e o discernimento das situações, adquiridos através da
meditação e reflexão sobre a vida.
É um livro que cultiva a Sabedoria, que para os Judeus eram um conjunto de
normas que guiavam a vida pratica e moral dos Jovens e Adultos. Todo o povo
tem a sua Sabedoria. Surge do temor do Senhor e procura agradar a Deus. É um
dom concedido por Deus. Chegando até a personificar a Sabedoria. Cristo diz
S. Paulo é a Sabedoria de Deus
2- Literatura Sapiencial:
A literatura Sapiencial aparece de várias formas:
Provérbios - tipo mais simples, normalmente um par de versos (Prov.);
Parábola - uma comparação; Longos poemas e hinos (Jó 27,1; 29,1). Enigma ou
adivinhas, utilizando perguntas (Prov. 23,29ss; Ecl. 10,19; 22,14) Diálogos
(Jó) Fábulas e alegorias (Prov. 5,15-23; Ecl. 12,1-6)
O processo de formação desta literatura também é lento e gradual, a antiga
tradição judaica a remete a Salomão é o rei sábio por excelência, o mais
sábio de todos (Provérbios, Coelet, Sabedoria, Cânt. Dos Cânticos) e a Davi
(Salmos).
Para os Judeus, a verdadeira sabedoria humana tem uma fonte divina; Deus pode
comunicar e comunica a sabedoria a quem lhe apraz. Eis porque os escritores
Sapienciais se comprazem em contemplar a divina sabedoria: sabem que a deles
emanou Dela.
3- Os Livros:
Provérbios e Eclesiástico - A sabedoria apresenta-se em forma de uma coleção
de frases curtas, sentenças que ajudam a compreender e a encontrar uma saída
nas diversas situações enfrentadas pelo homem.
Jó, Eclesiastes e Sabedoria - são escritos sobre os problemas mais profundos
e globais, como o sentido da vida, a morte, a justiça, a vida social, o mal,
a natureza da sabedoria etc...
Cântico dos cânticos - fala do amor humano (esponsal), símbolo do amor de
Deus para com seu povo
Salmos - Nesse livro se apresenta a espiritualidade de Israel numa coleção de
150 orações (Modelos para aprendermos a fazer a nossa oração).
4- Alguns temas importantes:
a) Conduta e remuneração: Há uma espécie de "dogma", na sabedoria
israelita, que afirma que a vida corre bem aos bons e mal aos maus. Não
acreditavam em outra vida, por isso acreditavam que Deus premia os bons e
castiga os maus, ainda nessa vida (Prov. 2, 21-22; 3,33).
b) O Sofrimento do justo e a prosperidade dos malvados: A realidade nem
sempre revela esse "dogma". A Bíblia procura responder a isso vendo
o sofrimento dos justos, como um meio pelo qual Deus educa os que ama (Prov
3, 11-12; Job 5, 17-19). Em outros momentos é visto como uma realidade
provisória e que encontrará uma solução adequada.
c) A Lei e Deus: É ela que deve guiar a conduta humana. O temor a Deus é o
princípio de toda Sabedoria. A Sabedoria capacita o homem para a Obediência
(próximo da ideia de Graça).
d) A Sabedoria Personificada: A Sabedoria é vista "como uma pessoa"
que estava com Deus desde o princípio das suas obras. Já é quase o entendimento
de Verbo no N.T.
5- O livro de Jó:
O livro aborda o tema por que sofrem os bons? O povo antigo de Israel via
como castigo do pecado o sofrimento; com isso aqueles considerados bons não
sofriam. Com o tempo foi se vendo que não era bem assim; não necessariamente
acontecia esta realidade sobre o sofrimento. Esta concepção se impunha aos
Judeus pelo fato de que ignoravam a existência de uma póstuma consciente;
julgavam que após a morte o indivíduo perdia a lucidez da mente e se
encontraria adormecido no cheol, incapaz de receber alguma sansão. Por isto
admitiam a retribuição do bem e do mal nesta vida mesmo.
É com este pano de fundo que se realiza o livro de Jó um homem reto, que
perde bens e saúde, três amigos diz para ele confessar os pecados graves que
ele cometeu por ver tamanho sofrimento, mas Jó se diz inocente e diz que esta
situação é inexplicável. Eliu tenta dar uma explicação que o sofrimento dos
bons é para que eles não se orgulhem. Deus então intervém calando Jó e seus
amigos por que quem é capaz de sondar os desígnios da Providencia de Deus.
Deus é sábio demais para que precise prestar contar dos seus planos. Então Jó
reconhece a sua incapacidade de julgar a Deus e Deus devolve a saúde e os
bens materiais.
Por conseguinte, reverência e confiança constituem a atitude que o autor
sagrado quer incutir diante do problema da dor. Pondo em cheque a explicação
antiga: ele não sabe propor nova sentença, que dependeria da revelação de
vida póstuma consciente e da obra do Cristo Jesus.
Todavia o livro indica a solução prática estritamente religiosa, que é valida
até hoje. Sim; mesmo depois de Cristo o homem não pode indicar o porquê de
todos os seus sofrimentos; faça porem um ato de confiança absoluta na
infalível Providência Divina. E não será frustrado.
O Novo testamento voltará a tratar do assunto, mostrando que o sofrimento é
disposto por Deus, não como mera punição do pecado, mas como remédio do
próprio mal; o patíbulo da Cruz sobre o Calvário foi erguido como árvore da
vida e da ressurreição gloriosa. O Homem, portanto, não sofre unicamente para
pagar um tributo à justiça mas para se purificar do pecado e voltar ao Pai
com Cristo - que é suma felicidade.
É preciso para compreender o sofrimento olhar para as realidades futuras,
vida após a morte, assim poderá colher os frutos das obras praticadas na
terra. Em Jesus, o justo que sofre em expiação dos pecados alheios e
ressuscita dentre os mortos vem com um sentido novo ao sofrimento. O livro de
Jó se coloca em divisão entre uma mentalidade do antigo testamento para o
novo testamento.
Podemos fazer a seguinte pergunta: o livro de Jó é real? Os traços literários
apontados parecem demonstrar suficientemente que o autor de Jó tinha em vista
um ensinamento não de ordem histórica, mas de ordem sapiencial ou de ordem
filosófico-religiosa. Mas precisamente: o que lhe interessava, era debater um
problema muito focalizado tanto na literatura bíblica como na profana: O
enigma do Justo que Padece.
Ora a discursão de um tema em termos abstratos não era familiar aos
israelitas nem aos antigos orientais. Foi por isto que, a fim de propor suas
considerações sobre o problema, o autor sagrado quis utilizar uma narrativa
de fundo histórico que circulava no mundo oriental: o drama de um homem digno
e aflito chamado Jó. Este drama serviu-lhe de ponto de partida para suas
meditações; ele não hesitou em ornamentar e dramatizar, a fim de torná-lo veículo
de suas ideias; com raro talento ele escreveu os artifícios da didática na
trama histórica primitiva.
a) Comentário:
O autor é um judeu. O herói do livro é um xeque edomita e o cenário é Edom
(por volta da era patriarcal).
Data do livro: Pós Exílio, fim do séc. V, provavelmente.
A Narrativa em prosa é anterior à composição poética (Ez 14, 14-20), parece
ser muito antiga e conhecida. A história de Jó deve ter circulado oralmente
durante muitos anos antes de ser lançada por escrito, como a temos
atualmente.
O Problema de Jó - Ele sofre e sabe que é inocente. Os amigos defendem a
Ortodoxia: sofrimento é consequência do pecado.
Jó não é um herói fictício, mas sim um homem de carne e osso, que se esforça
por vislumbrar um sentido nos inescrutáveis caminhos de Deus, um homem que
avança às apalpadelas por densas trevas (de fé).
A grandeza de Jó está em ser capaz de "desafiar os sofrimentos que o
acabrunham para despojá-lo da sua fé no Deus oculto".
Na sua agonia, chegou a criticar a Deus e seus caminhos, mas isso é
compensado pelo seu brado a Deus, seu anseio de encontrá-lo e sua profissão
final de fé: "Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos;
por isso retrato-me e faço penitência no pó e na cinza" (Jo 42,55).
6- Eclesiastes (Coélet)
O nome grego Eclesiastes é a tradução do hebraico Qoheleth = o homem que fala
na qahal ou na assembleia, ou o orador, o pregador. Este autor pertence ao
circulo dos sábios.
Característica: O livro discorre de falar da vaidade ou da deficiência dos
bens. É um monólogo, onde o autor discute consigo mesmo a respeito da
possibilidade de encontrar a felicidade no gozo do prazer, no trabalho, no
cultivo da sabedoria, nas riquezas, e verifica que em tudo existe decepções
para o homem; todos os bens se assemelham a vaidade; isto é, a sopro ou
vento: escapam quando alguém os quer segurar nas mãos.
Quem lê o livro, pode, à primeira vista, ficar confuso, por algumas
realidades como: pessimismo em relação a tudo, parece não ter ideal, nem
animo na vida, dar-se a impressão de materialismo por incentivar o gozo dos
prazeres, todos viemos do pó e ao pó voltaremos.
Para ter uma compreensão real da realidade do
livro é preciso verificar estes pontos:
• O autor de Ecl. não tinha uma consciência de uma vida póstuma.
Compartilhava a ideia de que, após a morte, o ser humano entra em estado de
torpor e se torna incapaz de receber a retribuição de seus atos bons e maus;
por conseguinte Deus exerce sua justiça aqui na terra em todos os homens. Ora
o autor de Ecl. tem um certo desanimo por ver que os ímpios são sadios, ricos
e os fieis sofrem perseguições e miséria.
• O autor é um homem prático que fala do que observa e experimenta. Fala que
na verdade, ninguém vê a alma de um percorrer a sua trajetória depois da
morte deste.
• Quando o Ecl. recomenda o gozo dos prazeres materiais ele não faz como os
ateus: ao contrario, na falte de perspectiva de recompensa no além, ele
convida seus discípulos a gozar dos bens que Deus lhes dá no decorrer desta
vida. Tem algumas passagens que podemos verificar Ecl. 2,24; 9,9. Se Deus dá
a alguém prazer, o Eclesiastes julga legítimo usufruí-lo como sendo dom de
Deus.
• As realidades sem nexo deste livro é um conflito do autor diante das possibilidades
de encontrar a felicidade. Com isso ele chega a uma conclusão que a passagem
Ecl. 12,13s. Esta conclusão bem mostra que o autor não é um cético, nem um
ateu; depois de haver discutido o problema da retribuição, ele o acha
insolúvel; por isso, chama seu discípulo para o realismo: sejamos fieis a
Deus e entreguemos nossas obras ao julgamento do Senhor. Nesta proposição
está timidamente expressa a esperança de que haverá retribuição póstuma.
Qualquer ímpeto de desespero ou revolta é superado por esse fecho do livro,
que representa a ultima palavra do autor temente e submisso a Deus.
• As posturas de amargura significam a insatisfação da criatura humana que
espera uma resposta cabal para os seus anseios naturais. Todo homem foi feito
para a vida, a justiça, a verdade, o amor... de modo que, quando não os
encontra sente amargura; O Ecl., através de suas afirmações quase
irreverentes, pedia a revelação da vida póstuma consciente, na qual cada um
encontrará a plena satisfação das aspirações mais fundamentais que Deus lhe
deu. Assim o Ecl. segue caminho para o Evangelho; é um brado a demanda do
Evangelho. A sua mensagem de temer a Deus e observar os mandamentos é
absolutamente válida também para os Cristãos. No Novo testamento, porém, é
completada pela certeza de que existe a justa retribuição no além, de modo
que todas as desordens escandalosas da vida presente serão apagadas, cedendo
à plena ordem.
7. Provérbios
É o livro mais representativo da literatura Sapiencial bíblica. O título
Provérbios traduz o hebraico Meschalim que significa “sentenças, máximas,
normas”.
O conteúdo do Provérbios serve para orientar sabiamente a vida do leitor,
seja no plano individual, seja no social. Afirma claramente o temor de Deus
como princípio da verdadeira sabedoria e que só em Deus o homem deve colocar
sua confiança. O livro consta de nove coleções. A coleção mais antiga é
atribuída ao rei Salomão que são a segunda e a quinta coleção.
Salomão foi considerado o maior sábio de Israel, é chamado “Provérbios de
Salomão”. Um ponto importante é o elogio da mulher virtuosa.
Os
escritores do novo testamento parecem aludir mais de uma vez a passagem em
que a Sabedoria é personificada. Cristo é dito Sabedoria e poder de Deus em I
Cor 1,24.30; Cl 2,3; existia junto ao Pai desde toda a eternidade, por ele
tudo foi feito; habitou entre os homens por própria iniciativa; a estes
comunica a verdade e vida.
A liturgia adapta a Maria Virgem os textos
de Pr 8,22-36. Este procedimento é justificado, pois Maria foi sede da
Sabedoria e a obra-prima da Sabedoria Divina; a estes títulos, ela participa
do elogio da Sabedoria .
8- Sabedoria
O livro é chamado, nos antigos manuscritos, Sabedoria de Salomão donde se fez
livro da Sabedoria.
Este louvor a Sabedoria decorre em três partes:
1. 1,16-5,24 - A Sabedoria e fonte de retidão e de imortalidade. Comparações
entre o justo e o ímpio; mostra que a prepotência dos maus sobre os bons na
vida presente cederá à inversão das sortes. Os ímpios serão vitimas de
horrível decepção ao passo que os justos reinarão com Deus na vida póstuma. O
Sábio é aquele que desde a vida presente, sabe escalonar os valores de modo
definitivo, não se deixando iludir por bens transitórios opostos a lei de
Deus
2. 6,1-9,19 - A origem e os predicados da sabedoria são propostos. É dom de
Deus, que deve ser implorado e que é, de modo especial, útil aos reis.
3. 10,1 - 19,20 - Retoma a primeira parte do livro. O autor estabelece uma
comparação entre os ímpios (Egípcios idólatras) e os justos (Israelitas).
Esta sabedoria guia a coletividade do povo. Esta parte é uma releitura do
Êxodo em estilo de Midraxe, isto é de modo a realçar a lição religiosa dos
acontecimentos passados.
Do ponto de vista doutrinário, Sb é de grande importância não só por
apresentar tal imagem da Sabedoria, mas também por desvendar um pouco a sorte
póstuma do homem. A concepção do Cheol (lugar subterrâneo, onde estariam
inconscientes bons e maus depois da morte) cede a noções mais próximas do
Novo Testamento e mais exatas. Com efeito; segundo Sb, o homem, criado por
Deus com especial benevolência consta de corpo e alma.
A alma não é preexistente ao corpo, existe uma harmonia entre corpo e alma.
Deus fez o homem para a imortalidade, de acordo com a sua imagem, mas foi por
inveja do diabo ou tentador que a morte entrou no mundo. Acontece, porém, que
as almas dos justos, depois de vida reta levada na terra, gozam de plena
felicidade ou do fruto de suas labutas. Assim o problema do mal, tão
tormentoso para Jó, Ecl, se resolve na teologia do AT; a prosperidade dos
maus e os sofrimentos dos bons já não são a ultima palavra de Deus; mas é
após a vida terrestre que se exerce plenamente a justiça de Deus,
restabelecendo a reta ordem dos valores.
9- Eclesiástico
Em hebraico é chamado: Palavra ou Sabedoria do filho de Sirac; grego chama de
Sabedoria de Jesus, filho de Sirac ou Sabedoria de Sirac; os Cristãos de
origem latina chamam de Eclesiasticus, pois o livro era apresentado aos
catecúmenos preparando-se para o batismo, era um manual de iniciação dos bons
costumes e à historia do Antigo Testamento; era o livro da Ecclesia (Igreja);
daí dizer-se “Eclesiástico”.
Revela o pensamento Israelita evoluído. Alguns temas: Bom comportamento: temor
de Deus, amizade, os anciãos, as mulheres, a riqueza, a pobreza, a doença, a
medicina, os deveres de estado. Outro tema mais teológico que é o Saber: a
glória de Deus.
O ponto mais alto do livro como em provérbios e outros é a sabedoria
personificada, mas agora é uma pessoa mais unida a Deus e distinta, o que de
certo modo antecipa a realidade de João. Chama atenção também a realidade da
identificação com a Torá (Lei).
Em Eclesiástico o autor assina o livro, chama-se segundo o LXX (Eclo
50,27(29) “Jesus, filho de Sirac, filho de Eleazar, de Jerusalém”. Sirac deve
ter sido um sábio pertencente ao grupo dos sábios de Jerusalém. Ele mesmo
apresenta uma peça notável sobre a sabedoria em si mesmo Eclo 51,13-30.
Siracides desde Jovem estudou muito o antigo testamento, ouviu outros sábios,
meditou em questões fundamentais da vida humana, viajou em terras
estrangeiras consultando assim novas fontes de saber, fundou a “Casa ou
Escola da Sabedoria” em Jerusalém. Ele era consciente da sua função de mestre
por isso ele assinou o livro que ele fez. 50,27, isto não era costume do
antigo testamento.
É um livro muito parecido com o Provérbios, mas de uma disposição mais
arrumada.
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