"A alegria do amor que se
vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos
sinais de crise no matrimônio, 'o desejo de família permanece vivo,
especialmente entre os jovens, e isto incentiva a Igreja'. Como resposta
a este anseio, 'o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma
boa notícia'", assim escreve o Papa Francisco no início
da Exortação Apostólica pós-sinodal 'Amoris Laetitia', que significa 'A
alegria do amor', divulgada hoje (08), no Vaticano.
O documento reúne os resultados dos dois
Sínodos sobre a família convocados pelo Papa Francisco em 2014 e 2015 e
contribuições de fiéis no mundo inteiro.
Francisco destaca no início do texto que
a caminhada sinodal permitiu analisar a situação das famílias no mundo
atual, alargar a perspectiva e reavivar a consciência sobre a
importância do matrimônio e da família. O documento afirma ainda que
questões doutrinais, morais, espirituais e pastorais complexas tem
necessidade de contínuo aprofudamento "com liberdade".
Francisco disse ainda que redigiu o
documento para "orientar a reflexão, o diálogo ou a práxis pastoral" e
oferecer "coragem, estímulo e ajuda às famílias na sua doação e nas suas
dificuldades".
O
texto foi apresentado durante duas horas em uma coletiva com
o Secretário do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri,
o Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, o sub-secretário do
Sínodo dos Bispos, Monsenhor Fabio Fabene e o casal Francesco Miano e
Giuseppina De Simone em Miano. A Exortação tem 270 páginas, nove
capítulos e encerra com uma oração final à Sagrada Família.
Segundo os relatores a chave de leitura
para o documento é a "misericórdia pastoral", dada a publicação do
documento ocorrer na celebração do Jubileu da Misericórdia.
Em mais de 300 pontos, o Papa dedica a
sua atenção à situação atual das famílias e os seus numerosos desafios,
desde o fenômeno migratório à “ideologia de gênero”; da cultura do
“provisório” à mentalidade “antinatalidade”, passando pelos dramas do
abuso de menores.
A Exortação apresenta um olhar positivo
sobre a família e o matrimônio, face ao individualismo que se limita a
procurar “a satisfação das aspirações pessoais”.
O Papa observa que a apresentação de “um
ideal teológico do matrimônio” não pode estar distante da “situação
concreta e das possibilidades efetivas” das famílias “tais como são”,
desejando que o discurso católico supere a “simples insistência em
questões doutrinais, bioéticas e morais”.
Nesse sentido, propõe uma pastoral
“positiva, acolhedora, que torna possível um aprofundamento gradual das
exigências do Evangelho”.
Católicos divorciados
A respeito dos católicos divorciados que
voltaram a casar civilmente, o documento quer abrir um caminho de
“discernimento”, sublinhando que não existe uma solução única para estas
situações.“Não se devia esperar do Sínodo ou desta exortação uma nova
normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos”, sublinha
Francisco. Tal como aconteceu com o relatório final da assembleia de
outubro de 2015, a exortação apostólica pós-sinodal não aborda
diretamente a possibilidade de acesso à Comunhão pelos divorciados
recasados, que é negada pela Igreja Católica. Entretanto, em uma das
notas do texto, o Papa observa que "o discernimento pode reconhecer que,
numa situação particular, não há culpa grave". "Ninguém pode ser
condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho", escreve
Francisco.
O Papa apresenta critérios de reflexão,
recordando que há “condicionamentos” e “circunstâncias atenuantes” que
podem anular ou diminuir a responsabilidade de uma ação.“Por isso, já
não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada
‘irregular’ vivem em estado de pecado mortal”, precisa. Estas pessoas
precisam da "ajuda da Igreja", procurando os "caminhos possíveis de
resposta a Deus", e "em certos casos, poderia haver também a ajuda dos
sacramentos".
Preparação matrimonial
A Exortação sublinha ainda a importância
da orientação dos noivos na preparação para o Matrimônio e do
acompanhamento dos casais nos primeiros anos da vida matrimonial e
também em algumas “situações complexas” ou “crises”. “É preciso ajudar
os jovens a descobrir o valor e a riqueza do Matrimônio”, escreve o
Papa.
“A complexa realidade social e os
desafios, que a família é chamada a enfrentar atualmente, exigem um
maior empenhamento de toda a comunidade cristã na preparação dos
noivos”, refere o texto.
Neste contexto, o pontífice sustenta que
só a “união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher”
realiza uma função social plena, “por ser um compromisso estável e
tornar possível a fecundidade”.