quinta-feira, 23 de maio de 2013

Livros Sapienciais




1- Introdução:

O nome de Sapienciais ou didáticos é dado a 5 livros do A.T. : Provérbios, Jó, Eclesiastes (Coélet), Eclesiástico (Sirac) e Sabedoria. A estes são acrescentados dois livros poéticos (Líricos) : Salmos e Cântico dos Cânticos.

Esses livros apresentam a sabedoria e a espiritualidade de Israel.

Em Israel, sabedoria não é cultura conseguida com acúmulo de conhecimentos, mas o bom senso e o discernimento das situações, adquiridos através da meditação e reflexão sobre a vida.

É um livro que cultiva a Sabedoria, que para os Judeus eram um conjunto de normas que guiavam a vida pratica e moral dos Jovens e Adultos. Todo o povo tem a sua Sabedoria. Surge do temor do Senhor e procura agradar a Deus. É um dom concedido por Deus. Chegando até a personificar a Sabedoria. Cristo diz S. Paulo é a Sabedoria de Deus
2- Literatura Sapiencial:
A literatura Sapiencial aparece de várias formas:

Provérbios - tipo mais simples, normalmente um par de versos (Prov.); Parábola - uma comparação; Longos poemas e hinos (Jó 27,1; 29,1). Enigma ou adivinhas, utilizando perguntas (Prov. 23,29ss; Ecl. 10,19; 22,14) Diálogos (Jó) Fábulas e alegorias (Prov. 5,15-23; Ecl. 12,1-6)
O processo de formação desta literatura também é lento e gradual, a antiga tradição judaica a remete a Salomão é o rei sábio por excelência, o mais sábio de todos (Provérbios, Coelet, Sabedoria, Cânt. Dos Cânticos) e a Davi (Salmos).

Para os Judeus, a verdadeira sabedoria humana tem uma fonte divina; Deus pode comunicar e comunica a sabedoria a quem lhe apraz. Eis porque os escritores Sapienciais se comprazem em contemplar a divina sabedoria: sabem que a deles emanou Dela.
3- Os Livros:

Provérbios e Eclesiástico - A sabedoria apresenta-se em forma de uma coleção de frases curtas, sentenças que ajudam a compreender e a encontrar uma saída nas diversas situações enfrentadas pelo homem.

Jó, Eclesiastes e Sabedoria - são escritos sobre os problemas mais profundos e globais, como o sentido da vida, a morte, a justiça, a vida social, o mal, a natureza da sabedoria etc...
Cântico dos cânticos - fala do amor humano (esponsal), símbolo do amor de Deus para com seu povo

Salmos - Nesse livro se apresenta a espiritualidade de Israel numa coleção de 150 orações (Modelos para aprendermos a fazer a nossa oração).
4- Alguns temas importantes:

a) Conduta e remuneração: Há uma espécie de "dogma", na sabedoria israelita, que afirma que a vida corre bem aos bons e mal aos maus. Não acreditavam em outra vida, por isso acreditavam que Deus premia os bons e castiga os maus, ainda nessa vida (Prov. 2, 21-22; 3,33).

b) O Sofrimento do justo e a prosperidade dos malvados: A realidade nem sempre revela esse "dogma". A Bíblia procura responder a isso vendo o sofrimento dos justos, como um meio pelo qual Deus educa os que ama (Prov 3, 11-12; Job 5, 17-19). Em outros momentos é visto como uma realidade provisória e que encontrará uma solução adequada.

c) A Lei e Deus: É ela que deve guiar a conduta humana. O temor a Deus é o princípio de toda Sabedoria. A Sabedoria capacita o homem para a Obediência (próximo da ideia de Graça).

d) A Sabedoria Personificada: A Sabedoria é vista "como uma pessoa" que estava com Deus desde o princípio das suas obras. Já é quase o entendimento de Verbo no N.T.
5- O livro de Jó:

O livro aborda o tema por que sofrem os bons? O povo antigo de Israel via como castigo do pecado o sofrimento; com isso aqueles considerados bons não sofriam. Com o tempo foi se vendo que não era bem assim; não necessariamente acontecia esta realidade sobre o sofrimento. Esta concepção se impunha aos Judeus pelo fato de que ignoravam a existência de uma póstuma consciente; julgavam que após a morte o indivíduo perdia a lucidez da mente e se encontraria adormecido no cheol, incapaz de receber alguma sansão. Por isto admitiam a retribuição do bem e do mal nesta vida mesmo.

É com este pano de fundo que se realiza o livro de Jó um homem reto, que perde bens e saúde, três amigos diz para ele confessar os pecados graves que ele cometeu por ver tamanho sofrimento, mas Jó se diz inocente e diz que esta situação é inexplicável. Eliu tenta dar uma explicação que o sofrimento dos bons é para que eles não se orgulhem. Deus então intervém calando Jó e seus amigos por que quem é capaz de sondar os desígnios da Providencia de Deus. Deus é sábio demais para que precise prestar contar dos seus planos. Então Jó reconhece a sua incapacidade de julgar a Deus e Deus devolve a saúde e os bens materiais.

Por conseguinte, reverência e confiança constituem a atitude que o autor sagrado quer incutir diante do problema da dor. Pondo em cheque a explicação antiga: ele não sabe propor nova sentença, que dependeria da revelação de vida póstuma consciente e da obra do Cristo Jesus.

Todavia o livro indica a solução prática estritamente religiosa, que é valida até hoje. Sim; mesmo depois de Cristo o homem não pode indicar o porquê de todos os seus sofrimentos; faça porem um ato de confiança absoluta na infalível Providência Divina. E não será frustrado.

O Novo testamento voltará a tratar do assunto, mostrando que o sofrimento é disposto por Deus, não como mera punição do pecado, mas como remédio do próprio mal; o patíbulo da Cruz sobre o Calvário foi erguido como árvore da vida e da ressurreição gloriosa. O Homem, portanto, não sofre unicamente para pagar um tributo à justiça mas para se purificar do pecado e voltar ao Pai com Cristo - que é suma felicidade.

É preciso para compreender o sofrimento olhar para as realidades futuras, vida após a morte, assim poderá colher os frutos das obras praticadas na terra. Em Jesus, o justo que sofre em expiação dos pecados alheios e ressuscita dentre os mortos vem com um sentido novo ao sofrimento. O livro de Jó se coloca em divisão entre uma mentalidade do antigo testamento para o novo testamento.

Podemos fazer a seguinte pergunta: o livro de Jó é real? Os traços literários apontados parecem demonstrar suficientemente que o autor de Jó tinha em vista um ensinamento não de ordem histórica, mas de ordem sapiencial ou de ordem filosófico-religiosa. Mas precisamente: o que lhe interessava, era debater um problema muito focalizado tanto na literatura bíblica como na profana: O enigma do Justo que Padece.

Ora a discursão de um tema em termos abstratos não era familiar aos israelitas nem aos antigos orientais. Foi por isto que, a fim de propor suas considerações sobre o problema, o autor sagrado quis utilizar uma narrativa de fundo histórico que circulava no mundo oriental: o drama de um homem digno e aflito chamado Jó. Este drama serviu-lhe de ponto de partida para suas meditações; ele não hesitou em ornamentar e dramatizar, a fim de torná-lo veículo de suas ideias; com raro talento ele escreveu os artifícios da didática na trama histórica primitiva.

a) Comentário:

O autor é um judeu. O herói do livro é um xeque edomita e o cenário é Edom (por volta da era patriarcal).

Data do livro: Pós Exílio, fim do séc. V, provavelmente.

A Narrativa em prosa é anterior à composição poética (Ez 14, 14-20), parece ser muito antiga e conhecida. A história de Jó deve ter circulado oralmente durante muitos anos antes de ser lançada por escrito, como a temos atualmente.

O Problema de Jó - Ele sofre e sabe que é inocente. Os amigos defendem a Ortodoxia: sofrimento é consequência do pecado.

Jó não é um herói fictício, mas sim um homem de carne e osso, que se esforça por vislumbrar um sentido nos inescrutáveis caminhos de Deus, um homem que avança às apalpadelas por densas trevas (de fé).

A grandeza de Jó está em ser capaz de "desafiar os sofrimentos que o acabrunham para despojá-lo da sua fé no Deus oculto".

Na sua agonia, chegou a criticar a Deus e seus caminhos, mas isso é compensado pelo seu brado a Deus, seu anseio de encontrá-lo e sua profissão final de fé: "Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos; por isso retrato-me e faço penitência no pó e na cinza" (Jo 42,55).
6- Eclesiastes (Coélet)

O nome grego Eclesiastes é a tradução do hebraico Qoheleth = o homem que fala na qahal ou na assembleia, ou o orador, o pregador. Este autor pertence ao circulo dos sábios.

Característica: O livro discorre de falar da vaidade ou da deficiência dos bens. É um monólogo, onde o autor discute consigo mesmo a respeito da possibilidade de encontrar a felicidade no gozo do prazer, no trabalho, no cultivo da sabedoria, nas riquezas, e verifica que em tudo existe decepções para o homem; todos os bens se assemelham a vaidade; isto é, a sopro ou vento: escapam quando alguém os quer segurar nas mãos.

Quem lê o livro, pode, à primeira vista, ficar confuso, por algumas realidades como: pessimismo em relação a tudo, parece não ter ideal, nem animo na vida, dar-se a impressão de materialismo por incentivar o gozo dos prazeres, todos viemos do pó e ao pó voltaremos.
Para ter uma compreensão real da realidade do livro é preciso verificar estes pontos:

• O autor de Ecl. não tinha uma consciência de uma vida póstuma. Compartilhava a ideia de que, após a morte, o ser humano entra em estado de torpor e se torna incapaz de receber a retribuição de seus atos bons e maus; por conseguinte Deus exerce sua justiça aqui na terra em todos os homens. Ora o autor de Ecl. tem um certo desanimo por ver que os ímpios são sadios, ricos e os fieis sofrem perseguições e miséria.

• O autor é um homem prático que fala do que observa e experimenta. Fala que na verdade, ninguém vê a alma de um percorrer a sua trajetória depois da morte deste.

• Quando o Ecl. recomenda o gozo dos prazeres materiais ele não faz como os ateus: ao contrario, na falte de perspectiva de recompensa no além, ele convida seus discípulos a gozar dos bens que Deus lhes dá no decorrer desta vida. Tem algumas passagens que podemos verificar Ecl. 2,24; 9,9. Se Deus dá a alguém prazer, o Eclesiastes julga legítimo usufruí-lo como sendo dom de Deus.

• As realidades sem nexo deste livro é um conflito do autor diante das possibilidades de encontrar a felicidade. Com isso ele chega a uma conclusão que a passagem Ecl. 12,13s. Esta conclusão bem mostra que o autor não é um cético, nem um ateu; depois de haver discutido o problema da retribuição, ele o acha insolúvel; por isso, chama seu discípulo para o realismo: sejamos fieis a Deus e entreguemos nossas obras ao julgamento do Senhor. Nesta proposição está timidamente expressa a esperança de que haverá retribuição póstuma. Qualquer ímpeto de desespero ou revolta é superado por esse fecho do livro, que representa a ultima palavra do autor temente e submisso a Deus.

• As posturas de amargura significam a insatisfação da criatura humana que espera uma resposta cabal para os seus anseios naturais. Todo homem foi feito para a vida, a justiça, a verdade, o amor... de modo que, quando não os encontra sente amargura; O Ecl., através de suas afirmações quase irreverentes, pedia a revelação da vida póstuma consciente, na qual cada um encontrará a plena satisfação das aspirações mais fundamentais que Deus lhe deu. Assim o Ecl. segue caminho para o Evangelho; é um brado a demanda do Evangelho. A sua mensagem de temer a Deus e observar os mandamentos é absolutamente válida também para os Cristãos. No Novo testamento, porém, é completada pela certeza de que existe a justa retribuição no além, de modo que todas as desordens escandalosas da vida presente serão apagadas, cedendo à plena ordem.
7. Provérbios

É o livro mais representativo da literatura Sapiencial bíblica. O título Provérbios traduz o hebraico Meschalim que significa “sentenças, máximas, normas”.

O conteúdo do Provérbios serve para orientar sabiamente a vida do leitor, seja no plano individual, seja no social. Afirma claramente o temor de Deus como princípio da verdadeira sabedoria e que só em Deus o homem deve colocar sua confiança. O livro consta de nove coleções. A coleção mais antiga é atribuída ao rei Salomão que são a segunda e a quinta coleção.

Salomão foi considerado o maior sábio de Israel, é chamado “Provérbios de Salomão”. Um ponto importante é o elogio da mulher virtuosa.
Os escritores do novo testamento parecem aludir mais de uma vez a passagem em que a Sabedoria é personificada. Cristo é dito Sabedoria e poder de Deus em I Cor 1,24.30; Cl 2,3; existia junto ao Pai desde toda a eternidade, por ele tudo foi feito; habitou entre os homens por própria iniciativa; a estes comunica a verdade e vida.
 A liturgia adapta a Maria Virgem os textos de Pr 8,22-36. Este procedimento é justificado, pois Maria foi sede da Sabedoria e a obra-prima da Sabedoria Divina; a estes títulos, ela participa do elogio da Sabedoria .
8- Sabedoria

O livro é chamado, nos antigos manuscritos, Sabedoria de Salomão donde se fez livro da Sabedoria.
Este louvor a Sabedoria decorre em três partes:

1. 1,16-5,24 - A Sabedoria e fonte de retidão e de imortalidade. Comparações entre o justo e o ímpio; mostra que a prepotência dos maus sobre os bons na vida presente cederá à inversão das sortes. Os ímpios serão vitimas de horrível decepção ao passo que os justos reinarão com Deus na vida póstuma. O Sábio é aquele que desde a vida presente, sabe escalonar os valores de modo definitivo, não se deixando iludir por bens transitórios opostos a lei de Deus

2. 6,1-9,19 - A origem e os predicados da sabedoria são propostos. É dom de Deus, que deve ser implorado e que é, de modo especial, útil aos reis.

3. 10,1 - 19,20 - Retoma a primeira parte do livro. O autor estabelece uma comparação entre os ímpios (Egípcios idólatras) e os justos (Israelitas). Esta sabedoria guia a coletividade do povo. Esta parte é uma releitura do Êxodo em estilo de Midraxe, isto é de modo a realçar a lição religiosa dos acontecimentos passados.

Do ponto de vista doutrinário, Sb é de grande importância não só por apresentar tal imagem da Sabedoria, mas também por desvendar um pouco a sorte póstuma do homem. A concepção do Cheol (lugar subterrâneo, onde estariam inconscientes bons e maus depois da morte) cede a noções mais próximas do Novo Testamento e mais exatas. Com efeito; segundo Sb, o homem, criado por Deus com especial benevolência consta de corpo e alma.

A alma não é preexistente ao corpo, existe uma harmonia entre corpo e alma. Deus fez o homem para a imortalidade, de acordo com a sua imagem, mas foi por inveja do diabo ou tentador que a morte entrou no mundo. Acontece, porém, que as almas dos justos, depois de vida reta levada na terra, gozam de plena felicidade ou do fruto de suas labutas. Assim o problema do mal, tão tormentoso para Jó, Ecl, se resolve na teologia do AT; a prosperidade dos maus e os sofrimentos dos bons já não são a ultima palavra de Deus; mas é após a vida terrestre que se exerce plenamente a justiça de Deus, restabelecendo a reta ordem dos valores.
9- Eclesiástico

Em hebraico é chamado: Palavra ou Sabedoria do filho de Sirac; grego chama de Sabedoria de Jesus, filho de Sirac ou Sabedoria de Sirac; os Cristãos de origem latina chamam de Eclesiasticus, pois o livro era apresentado aos catecúmenos preparando-se para o batismo, era um manual de iniciação dos bons costumes e à historia do Antigo Testamento; era o livro da Ecclesia (Igreja); daí dizer-se “Eclesiástico”.

Revela o pensamento Israelita evoluído. Alguns temas: Bom comportamento: temor de Deus, amizade, os anciãos, as mulheres, a riqueza, a pobreza, a doença, a medicina, os deveres de estado. Outro tema mais teológico que é o Saber: a glória de Deus.

O ponto mais alto do livro como em provérbios e outros é a sabedoria personificada, mas agora é uma pessoa mais unida a Deus e distinta, o que de certo modo antecipa a realidade de João. Chama atenção também a realidade da identificação com a Torá (Lei).

Em Eclesiástico o autor assina o livro, chama-se segundo o LXX (Eclo 50,27(29) “Jesus, filho de Sirac, filho de Eleazar, de Jerusalém”. Sirac deve ter sido um sábio pertencente ao grupo dos sábios de Jerusalém. Ele mesmo apresenta uma peça notável sobre a sabedoria em si mesmo Eclo 51,13-30. Siracides desde Jovem estudou muito o antigo testamento, ouviu outros sábios, meditou em questões fundamentais da vida humana, viajou em terras estrangeiras consultando assim novas fontes de saber, fundou a “Casa ou Escola da Sabedoria” em Jerusalém. Ele era consciente da sua função de mestre por isso ele assinou o livro que ele fez. 50,27, isto não era costume do antigo testamento.

É um livro muito parecido com o Provérbios, mas de uma disposição mais arrumada.

http://www.comshalom.org/formacao/liturgia/livros_sapienciais.html

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