sábado, 30 de junho de 2012

Relatos da viagem missionária à África



Recentemente, nós bispos de Pernambuco, realizamos uma visita missionária à África, passando por Moçambique, Angola e África do Sul. Foi interessante perceber, de início, a diferença da realidade existente entre a África do Sul e os dois outros países visitados. Iniciamos a peregrinação por Moçambique. Naquele país, nos impressionou e emocionou a MISSÃO de DOMBE, localizada na província de Sofala- Diocese de Chimoio que tem à frente Dom Francisco.

São, aproximadamente, 1.200 crianças e jovens de pobreza extrema, assistidos pela Obra de Maria, Fazenda da Esperança e a comunidade das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada. Uma população de aproximadamente 90 mil habitantes, com 15 dialetos diferentes, sendo os mais comuns: O Tindal e Chona. Na área da educação, dispõe apenas da alfabetização ao 1º ano do ensino fundamental. Para continuar os estudos precisariam deslocar-se para os centros mais desenvolvidos, o que não é possível por falta de condições econômicas. Dombe não dispõe ainda de energia elétrica. Os 50 km de estrada de barro a partir do asfalto começa a ser trabalhada e, somente em 2014 será inaugurada. A população vive apenas da agricultura, sendo o milho o plantio mais comum. As três refeições que realizam durante o dia, quando é possível, são feitas à base do milho.

A cultura é patriarcal e entre eles é comum a poligamia. Existem homens que possuem até sete esposas. As mulheres são adquiridas através de dotes, pagos aos pais, em geral através de cabritos. Existe o problema do HIV (AIDS) em grande escala na população. Fala-se que, entre 10 mulheres 8 são portadoras do vírus, chamado SIDA na região. Poder contar com a assistência dos missionários na Missão de Dombe é um privilegio. São muitos os adolescentes e jovens da redondeza que chegam para estudar em Dombe, não encontrando abrigo passam a habitar em cabanas, feitas de Madeira e capim, dormindo no chão, sobre esteiras de palha.

Chamou-nos, particular atenção a situação da Igreja em Maputo que está enfrentando perseguição. No dia em que dois dos nossos irmãos, Dom Pepeu e Dom Magnus, chegaram à capital de Moçambique, o Arcebispo Dom Francisco Chimoio (capuchinho) estava celebrando o funeral de um sacerdote assassinado. Isto tem acontecido com frequência com membros da Igreja Católica e ainda não se sabe a identidade do ou dos criminosos, nem os motivos das mortes.

Antes de tomar o avião para Angola, tivemos oportunidade de dar um giro em Joannesburg, cidade onde aconteceu a abertura e encerramento da Copa do Mundo de 2010 e visitar a residência do grande líder Nelson Mandela.

Em Angola, chamou-nos particular atenção a visita à Cabinda, região que luta pela sua independência. No aeroporto nos esperava o Bispo Diocesano Dom Filomeno, pessoa simpaticíssima que ao ser nomeado Bispo de Cabinda sofreu rejeição por não ser nativo, pois provinha da capital de Angola (Luanda). Atualmente, tem grande aceitação e nos acompanhou durante todo o dia com atenção e amabilidade.

Na catedral, com a Igreja superlotada ,e com muita animação, concelebramos a Eucaristia. O povo nos saudava com carinho, cantava e dançava com entusiasmo tal que nos deixou impressionados. Da catedral fomos à casa da Obra de Maria e Seminário Propedêutico. Em seguida fomos à casa do bispo onde nos reunimos com sacerdotes e religiosas que assumem funções de liderança na diocese, para troca de experiências pastorais. Dom Filomeno iniciou com o questionamento: “como lida o Brasil com o problema da fome e AIDS?”. Todos participaram do debate e fomos além do tema, com diálogo muito proveitoso para os dois grupos.

É visível da parte dos africanos, pelo menos nestes três países visitados, o carinho pelo Brasil e seu povo. A todo o momento passava pela nossa memória os séculos de escravidão no Brasil, quando inúmeros africanos foram trazidos à força para aqui servirem com humilhações e maus tratos. Em algumas celebrações, inclusive, tivemos oportunidade de pedir perdão por esta história vergonhosa de nossa nação brasileira. O povo africano é simples e alegre e parece não guardar mágoas deste passado nebuloso, fato que confirma sua grandeza e capacidade de amar e perdoar.

Africa, 11 de Maio de 2012
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife

Fonte:http://www.arquidioceseolindarecife.org/

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